Prof. Hermógenes !!!

  Para mim !

“Nunca me esquecerei de agradecer ao eterno o poder de adentrar e degustar a sua onipresença. Fazendo silêncio para melhor escutar e fechando os olhos para ver melhor. As vivências foram muitas, ao longo de meus longos caminhos, muitos foram os poentes coloridos e as doces madrugadas que embeleceram, alegraram, acariciaram este velho coração que Deus tem por sua morada.
Encaneci, mas não esqueci os lugares por onde o Divino me levou. Lembro-me das águas que molharam meu corpo, das pancadas das ondas quebrando em minhas costas, das sombras que protegeram minha pele e dos ardores do sol que a queimaram.
Que emoções, que sensações deliciosas desfrutei frente ao mar sem fim, tão ele mesmo, tão singelamente nobre e magnífico, deixando-me quedar extático, atento, sumindo na doçura da contemplação, embriagado pelo licor do Divino eterno que ali se impunha todo presença.
Guardo também, por que não? Didáticas recordações dolorosas de minha quase morte tragado pelas ondas, de minha quase morte numa cirurgia sem anestésico e sem esperança. Dos beliscões que a catequista me aplicava por não ter eu decorado a definição de Deus, definição que até hoje desconheço e desisti de procurar.
Se no final desta existência, alguma ansiedade me restar e conseguir me perturbar; se eu me debater aflito no conflito, na discórdia…
Se ainda ocultar verdades para ocultar-me, com fantasias por mim criadas… Se restar abatimento e revolta pelo que não consegui possuir, fazer, dizer e principalmente ser…
Se eu me retiver um pouco mais do pouco que é necessário e persistir indiferente ao grande pranto do mundo…
Se seguir protestando, reclamando, contestando, exigindo que o mundo mude sem qualquer esforço de mudar-me eu…
Se, indigente da incondicional alegria interior e em queixas, ais e lamúrias, persistir a buscar consolo, conforto, simpatia, compaixão para a minha ainda imperiosa angústia…
Se, ainda incapaz para a beatitude das almas santas, precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende… Se insistir ainda que o mundo silencie para que possa embeber-me de silêncio, sem saber realizá-lo em mim…
Se minha fortaleza e segurança são ainda construídas com os materiais grosseiros e fugazes que o mundo empresta. E eu neles ainda acredite…
Se, imprudente e cegamente continuar desejando adquirir, multiplicar, reter valores, coisas, pessoas, posições, ideologias, na ânsia de ser feliz…
Se, ainda presa do grande embuste, persistir iludido com a importância que me dou… E Se, ao fim de meus dias, continuar sem escutar, sem entender, sem atender, sem realizar o Cristo, que, dentro de mim,
Eu Sou.Terei me perdido na multidão abortada, dos perdulários, dos divinos talentos, dos talentos que a Vida a todos confia. E serei um fraco a mais, um traidor da própria vida, da Vida que investe em mim, Que de mim espera e que se vê frustrada diante de meu fim.
Se tudo isto acontecer, terei parasitado a vida e inutilmente ocupado o tempo e o espaço de Deus. Terei meramente sido vencido pelo fim, sem ter atingido a meta.”

 Suely me mandou amei.


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