Em fazenda no ES renderão café de R$ 900 o quilo
À
primeira vista, não dava para entender por que diabos aqueles grãos de café,
meio gosmentos, surgiam amontoados sob as árvores - religiosamente, da noite
para o dia.
Ao
amanhecer, era sempre igual: os roceiros se enfiavam no meio do cafezal para
fazer a colheita manual e davam de cara com uns grãos, já sem casca, sobre as
folhas secas no chão. Algum animal ali da mata andava a chupar esses frutinhos
adocicados.
Depois de
muito fuçar, Rogério Lemke, o administrador da fazenda Camocim, na qual se
espalham 120 mil pés de café em Pedra Azul, a 100 quilômetros de Vitória, no
Espírito Santo, matou a charada.
Eram
cuícas, pequenos mamíferos silvestres, que guardam certa semelhança com um
rato. Os bichos se penduram nos galhos mais baixos das árvores, à noite, para
se alimentar da casca, da polpa e do mel do café. Escolhiam sempre os melhores
frutos, como em uma "colheita seletiva".
Depois,
as cuícas dispensavam os grãos, ainda com algum resquício do mel sobre o
pergaminho (película entre a semente e a polpa). Para evitar prejuízo, com o
desperdício de grãos, o carioca Henrique Sloper, dono da fazenda, resolveu
recolher essas sementes "cuspidas".
A partir
daí, como revela a Folha, Sloper decidiu fazer testes de secagem e torra
para descobrir, na xícara, o que eles poderiam render.
Depois de
um ano de avaliações, o café da cuíca deve ser lançado em novembro por pelo
menos R$ 900, o quilo. Em média, um pacote de mesmo peso de um café especial
custa R$ 60 - os grãos cuspidos pelo animal custarão, portanto, 14 vezes mais.
Bicho sem carisma, a cuíca, quem diria, vale ouro.
LUIZA
FECAROTTA
CulturaMix - Marcelo Justo/Folhapress
CulturaMix - Marcelo Justo/Folhapress
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