Sorvetes

Trazido ao Novo Mundo pelos colonizadores ingleses, o sorvete agradou em cheio aos americanos, hoje os principais produtores e consumidores do planeta. Mais do que sorvê-lo simplesmente, porém, eles foram fundamentais no processo de industrialização e massificação do produto. Em 1851, um poderoso comerciante de leite de Baltimore, chamado Jacob Fussell, teve a ideia de converter o sorvete encalhado em ice cream (literalmente, gelo em creme) e produzi-lo em escala, fundando a primeira fábrica de sorvetes do mundo. Não é preciso dizer que a novidade caiu rapidamente no gosto popular. O trio gelado inventado no fim do século 19 no país de Tio Sam – o Ice Cream Soda, o Sundae e o Banana Split – acabaria por elevar o ice cream a um dos maiores ícones da cultura americana, ao lado de outra invenção - a Coca-cola - também criada quase na mesma época, em 1886. Outra contribuição valiosa dos americanos na história do sorvete foi a invenção, entre 1870 e 1900, da geladeira (a refrigeração mecânica permitiu a produção de gelo independente do processo natural), além da criação, quase casual, da casquinha de sorvete, que ocorreu durante a Feira Mundial de Saint Louis, em 1904. Um sorveteiro, ao ver terminar seu estoque de pratos, serviu suas disputadas bolas de sorvete nos waffles emprestados de um stand vizinho, feitos por certo sírio de nome Hamwi (Em tempo: a autoria do picolé, porém, faça-se justiça, cabe aos italianos). DE NAVIO Os bons e tépidos ventos da primavera carioca de 1834 trouxeram ao Brasil pela primeira vez o gosto do sorvete. Para ser historicamente preciso o navio americano Madagascar foi quem carregou em seus porões uma montanha de 167 toneladas de gelo em blocos. A carga preciosa, extraída das águas congeladas do rio Potomac e dos lagos de Boston, serviram de matéria-prima para os primeiros “gelados” - assim chamados - feitos aqui. Dois comerciantes compraram o carregamento e passaram a vender sorvetes de frutas. À época, não havia como conservá-los, por isso tinham que ser consumidos logo após seu preparo, para não derreterem. As sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-los. De acordo com o historiador Carlos Alberto Ditadi, do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, enormes filas eram formadas na porta da Da Águia, a primeira confeitaria a oferecer o produto, que ficava na rua do Ouvidor, no centro da cidade. A novidade, porém, era considerada coisa de gente rica. Habitué ilustre, o imperador Pedro II (1825-1898) era apreciador do sorvete de pitanga da casa. Na era do gelo Efeito estufa que nada! Unanimidade no verão, o sorvete é uma tentação reinventada a cada estação com novos ingredientes, cores e sabores POR MARCO MERGUIZZO

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